We’ve updated our Terms of Use to reflect our new entity name and address. You can review the changes here.
We’ve updated our Terms of Use. You can review the changes here.

bedside matsuko 2 para sua alegria [e para sua tristeza consciente]

by bedside matsuko

/
  • Streaming + Download

    Purchasable with gift card

     

1.
Não quero regra nem nada Tudo tá como o diabo gosta, tá; Já tenho este peso, que me fere as costas, e não vou, eu mesmo, atar minha mão. O que transforma o velho no novo bendito fruto do povo será. E a única forma que pode ser norma é nenhuma regra ter; é nunca fazer nada que o mestre mandar. Sempre desobedecer. Nunca reverenciar.
2.
Ao nascer, ouvi sobre a solidão Chegue até a devastação Só terás que tomar posse de seu ser E definitivamente deixar de ter azar Não sabe ainda dizer que os valores estampados Não vão lhe definir Os sons dos dias O sol lá fora Foi isso a vida? Então, retorna! Ao viver no caos das afecções Humilhado pelas paixões Cantou quem não ia cantar Errou por errar Sobrou quem não ia sobrar E eu ainda acho que escolho Ter amigos para conversar Sobre este caos Ter inimigos para atrapalhar A visão do que é Entristece a questão da moral baixa Que tendemos a apoiar Incentivar a existência de uma repressão Que intuitivamente pretende-se alinhar Corpos que não se enquadrem Nos padrões estabelecidos E ameaçam o que está aí Ao nascer, ouvi sobre a salvação Ela sou eu e meu poder de criação.
3.
As pessoas do metrô Não vêem o horizonte As pessoas do busão Não querem conversar Nem meu patrão quer me ver sorrindo Almoço sempre no mesmo lugar E ninguém se sente pra me acompanhar As pessoas da TV Não sabem meu nome As pessoas que amei Não estão mais aqui Quero me dedicar a saber desde De quando o ser deixou de ser O ser que me fez ser o...
4.
"A todos vocês, que eu amei e que eu amo, ícones guardados num coração-caverna, como quem num banquete ergue a taça e celebra, repleto de versos levanto meu crânio. Penso, mais de uma vez: seria melhor talvez pôr-me o ponto final de um balaço. Em todo caso eu hoje vou dar meu concerto de adeus. Memória! Convoca aos salões do cérebro um renque inumerável de amadas. Verte o riso de pupila em pupila, veste a noite de núpcias passadas. De corpo a corpo verta a alegria. esta noite ficará na História. Hoje executarei meus versos na flauta de minhas próprias vértebras."
5.
Fechei um novo dia sem percalços Me alimentei, comprei um novo sapato Briguei em casa, vou levar um agrado Aquela coisa que ele queria ter Esqueça os mimos, vem viver. Sei que na rua sou só um garrancho Visto de lado, trabalhador suburbano Que chora a copa e fisga o que está sobrando Tem moral baixa e com tudo luta para honrar Uma realidade que convém E eu não sei como vou ficar agora Que descobri que o desejo não é falta É um impulsionar-se, um devir que transa Figura um ato de singularidade Não quero mais medir os sons! Já deu certa hora da noite, eu sei Chegou a hora de injetar diversão, meu bem Vai começar o que programaram para mim E eu sei que não vão mostrar o que não posso ver Não vão mostrar o que não quero saber O que não construirá uma bolha invisível Fazendo com que me encaixe no lego social.
6.
Chega de ser tolo Viver achando que uma hora estará satisfeito Não sabe sequer se quer chorar Sequer sorrir Vou tentar ser mais afirmativo E dar um pouco mais de mim nisso De tentar ganhar independência Desse bombardeio todo que Querem nos botar É hora, pois, de amadurecer Desaprumar a consciência Desse plano simples Condicionar, não ser condicionado Sem a petulância de dizer Que sabe o que é o melhor Não acha que é um pouco demais pensar Que a realidade é necessária E nós temos um papel definido E o que mais desejamos ou tememos Está por aí, fruto de nós mesmos Rebaixando a vida e lamentando Tudo o que é natural Eu já cansei Não me acho mais Tão especial Por que devo achar Que eu sou mais Que um feijão?
7.
Pra quê pressa pra trampar? Pra quê pressa pra sofrer? Pra quê pressa pra amar? Pra quê pressa pra beber mais? Seja meu abrigo Das horas extras do patrão Eu tenho que me virar Pois não sei falar inglês Pra quê pressa pra trampar? Não há tempo pra sofrer Não há tempo pra brincar A vida não é assim E uns dizem ainda que o sol do amanhã Nem sequer virás, pois então... Sinta o sol, cheire o sol, toque o sol, pense no sol Insinue o sol, por fim.... Seja o sol. Pra quê pressa pra trampar? Pra quê pressa pra sofrer? Não há tempo pra brincar A vida não é assim E digo mais: me arrebenta Pois só seu corpo me esquenta Não ligo de me dilacerar Se no outro dia eu for te ver
8.
A demora pra saber o resultado Dessa minha atitude Me sufoca... Traz com avidez a sina Que imprimi na minha testa Pra de longe poderem ver Que não vale a pena Me elogiaram muito No fim, fiz pela metade Meu papel com a sociedade Doei muita vitalidade Mas larguei mão E no fim, nem liguei... Fui criado pra consumir Para bradar Para ninguém Fui formado ao sabor Do que chegou Do que me fiz Estou de fora De um apanhado de pessoas Que marcharam para cá Sem demora Com a cabeça em outras coisas Com o meu dorso em outras coisas Com meu corpo, que é sem órgãos Me expressar...
9.
Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano Sem dinheiro no banco Sem parentes importantes E vindo do interior Mas trago de cabeça Uma canção do rádio Em que um antigo Compositor baiano Me dizia Tudo é divino Tudo é maravilhoso Mas trago de cabeça Uma canção do rádio Em que um antigo Compositor baiano Me dizia Tudo é divino Tudo é maravilhoso Tenho ouvido muitos discos Conversado com pessoas Caminhado meu caminho Papo, som, dentro da noite E não tenho um amigo sequer Que ainda acredite nisso não Tudo muda! E com toda razão Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano Sem dinheiro no banco Sem parentes importantes E vindo do interior Mas sei Que tudo é proibido Aliás, eu queria dizer Que tudo é permitido Até beijar você No escuro do cinema Quando ninguém nos vê Mas sei Que tudo é proibido Aliás, eu queria dizer Que tudo é permitido Até beijar você No escuro do cinema Quando ninguém nos vê Não me peça que eu lhe faça Uma canção como se deve Correta, branca, suave Muito limpa, muito leve Sons, palavras, são navalhas E eu não posso cantar como convém Sem querer ferir ninguém Mas não se preocupe meu amigo Com os horrores que eu lhe digo Isso é somente uma canção A vida é diferente, eu sei, pode dizer... A vida é muito pior! E eu sou apenas um rapaz Latino-Americano Sem dinheiro no banco Por favor Não saque a arma no "saloon" Eu sou apenas o cantor Mas se depois de cantar Você ainda quiser me atirar Mate-me logo! À tarde, às três Que tenho um compromisso E não posso faltar Por causa de você Mas se depois de cantar Você ainda quiser me atirar Mate-me logo! À tarde, às três Que à noite Tenho um compromisso E não posso faltar Por causa de você Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano Sem dinheiro no banco Sem parentes importantes E vindo do interior Mas sei que nada é divino Nada, nada é maravilhoso Nada, nada é sagrado (secreto) Nada, nada é misterioso, não.
10.
E finalmente voltei a sonhar. Não foi, necessariamente, um sonho alegrador. Depende do grau de acidez do espírito que observa. O universo foi dizimado. Um sopro, oriundo dos confins mais aleatórios do cosmos, simplesmente passou arruinando tudo. Tudo. Aninha não conseguiu terminar seu TCC. Sol, apelido acanhado da estrela que nos iluminava, foi empurrado como bolinha de gude em terreno baldio. O dia significava o aniversário da filha do Marcelo. Que coincidência. Nem conseguiu comemorar. Desapareceu ainda no trampo. Augusto, 17 anos, ficou no apartamento de manhã, faltou no colégio pra esperar o cara que vinha consertar o cavalete das cortinas que também foram pro saco; era uma terça-feira. Uma turma de 7 amigos tirava selfie na praia de Santos. Sumiram junto do mar. E toda a vida marinha também. A diversidade absurda de peixes, crustáceos e seres vivos mais que nunca foram nomeadas por humano algum. O conceito de vivo se foi, também. Era o dia de pagamento de Wellington, morador periférico, ainda a caminho do suado emprego de ajudante de pedreiro na qual ainda tinha anos e anos a gastar. Ele se foi junto com o conceito de dia. Junto das horas que preenchiam o dia. Junto da matiz lógica que o fazia atravessar meia cidade por menos de dois reais a hora extra. Fabiana, desenvolvedora Web, só precisava de mais uns ajustes antes de mostrar o resultado ao cliente. Tudo bem. O cliente também se foi. Tenho certeza de que teria gostado. Mesmo que não tivesse, tanto faz. A opinião de ninguém importa mais. Morreu a opinião, o gosto, o belo e a fadiga. Não é legal que não exista mais fadiga? Muita gente aplaudiria isso. Se ainda houvesse a expressão do aplauso. O que significa o aplauso, afinal? Depende. Alguns aplaudem fantasmas imaginários. Outros, a mutação eterna que a natureza insistentemente formata frente aos olhos. Eu, intimamente, gosto mais do segundo grupo. Mas não importa. A natureza cansou de todos. E ai de um condicionado como eu querer ter voz ativa nessa brincadeira! Meu consolo é emular tudo isso de forma tão perfeita que me fizeste acordar alarmado. Não de incrédulo, e sim de súbito, pelo alarme do celular, regulado pra me acordar mais um dia. Quanto à existência do conceito de dia, permaneci calado. Eu já entendi que ele não tem valor em si mesmo, de qualquer forma. Virei e dormi mais 15 minutos, eu merecia; Até 7:45. No sonho, não vi quem dizimou o universo. Mas imagino que tivesse tudo isso em mente na hora de implantar a morte térmica do mesmo.

credits

released December 25, 2015

license

all rights reserved

tags

If you like bedside matsuko, you may also like: