1. |
01 - Como o diabo gosta
01:59
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Não quero regra nem nada
Tudo tá como o diabo gosta, tá;
Já tenho este peso, que me fere as costas,
e não vou, eu mesmo, atar minha mão.
O que transforma o velho no novo
bendito fruto do povo será.
E a única forma que pode ser norma
é nenhuma regra ter;
é nunca fazer nada que o mestre mandar.
Sempre desobedecer.
Nunca reverenciar.
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2. |
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Ao nascer, ouvi sobre a solidão
Chegue até a devastação
Só terás que tomar posse de seu ser
E definitivamente deixar de ter azar
Não sabe ainda dizer que os valores estampados
Não vão lhe definir
Os sons dos dias
O sol lá fora
Foi isso a vida?
Então, retorna!
Ao viver no caos das afecções
Humilhado pelas paixões
Cantou quem não ia cantar
Errou por errar
Sobrou quem não ia sobrar
E eu ainda acho que escolho
Ter amigos para conversar
Sobre este caos
Ter inimigos para atrapalhar
A visão do que é
Entristece a questão da moral baixa
Que tendemos a apoiar
Incentivar a existência de uma repressão
Que intuitivamente pretende-se alinhar
Corpos que não se enquadrem
Nos padrões estabelecidos
E ameaçam o que está aí
Ao nascer, ouvi sobre a salvação
Ela sou eu e meu poder de criação.
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3. |
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As pessoas do metrô
Não vêem o horizonte
As pessoas do busão
Não querem conversar
Nem meu patrão quer me ver sorrindo
Almoço sempre no mesmo lugar
E ninguém se sente pra me acompanhar
As pessoas da TV
Não sabem meu nome
As pessoas que amei
Não estão mais aqui
Quero me dedicar a saber desde
De quando o ser deixou de ser
O ser que me fez ser o...
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4. |
04 - A Flauta Vértebra
00:37
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"A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras."
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5. |
05 - Garrancho
02:21
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Fechei um novo dia sem percalços
Me alimentei, comprei um novo sapato
Briguei em casa, vou levar um agrado
Aquela coisa que ele queria ter
Esqueça os mimos, vem viver.
Sei que na rua sou só um garrancho
Visto de lado, trabalhador suburbano
Que chora a copa e fisga o que está sobrando
Tem moral baixa e com tudo luta para honrar
Uma realidade que convém
E eu não sei como vou ficar agora
Que descobri que o desejo não é falta
É um impulsionar-se, um devir que transa
Figura um ato de singularidade
Não quero mais medir os sons!
Já deu certa hora da noite, eu sei
Chegou a hora de injetar diversão, meu bem
Vai começar o que programaram para mim
E eu sei que não vão mostrar o que não posso ver
Não vão mostrar o que não quero saber
O que não construirá uma bolha invisível
Fazendo com que me encaixe no lego social.
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6. |
06 - Élan Vital
02:08
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Chega de ser tolo
Viver achando que uma hora estará satisfeito
Não sabe sequer se quer chorar
Sequer sorrir
Vou tentar ser mais afirmativo
E dar um pouco mais de mim nisso
De tentar ganhar independência
Desse bombardeio todo que
Querem nos botar
É hora, pois, de amadurecer
Desaprumar a consciência
Desse plano simples
Condicionar, não ser condicionado
Sem a petulância de dizer
Que sabe o que é o melhor
Não acha que é um pouco demais pensar
Que a realidade é necessária
E nós temos um papel definido
E o que mais desejamos ou tememos
Está por aí, fruto de nós mesmos
Rebaixando a vida e lamentando
Tudo o que é natural
Eu já cansei
Não me acho mais
Tão especial
Por que devo achar
Que eu sou mais
Que um feijão?
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7. |
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Pra quê pressa pra trampar?
Pra quê pressa pra sofrer?
Pra quê pressa pra amar?
Pra quê pressa pra beber mais?
Seja meu abrigo
Das horas extras do patrão
Eu tenho que me virar
Pois não sei falar inglês
Pra quê pressa pra trampar?
Não há tempo pra sofrer
Não há tempo pra brincar
A vida não é assim
E uns dizem ainda que o sol do amanhã
Nem sequer virás, pois então...
Sinta o sol, cheire o sol, toque o sol, pense no sol
Insinue o sol, por fim.... Seja o sol.
Pra quê pressa pra trampar?
Pra quê pressa pra sofrer?
Não há tempo pra brincar
A vida não é assim
E digo mais: me arrebenta
Pois só seu corpo me esquenta
Não ligo de me dilacerar
Se no outro dia eu for te ver
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8. |
08 - Doze vezes Doze
01:26
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A demora pra saber o resultado
Dessa minha atitude
Me sufoca...
Traz com avidez a sina
Que imprimi na minha testa
Pra de longe poderem ver
Que não vale a pena
Me elogiaram muito
No fim, fiz pela metade
Meu papel com a sociedade
Doei muita vitalidade
Mas larguei mão
E no fim, nem liguei...
Fui criado pra consumir
Para bradar
Para ninguém
Fui formado ao sabor
Do que chegou
Do que me fiz
Estou de fora
De um apanhado de pessoas
Que marcharam para cá
Sem demora
Com a cabeça em outras coisas
Com o meu dorso em outras coisas
Com meu corpo, que é sem órgãos
Me expressar...
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9. |
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Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas trago de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso
Mas trago de cabeça
Uma canção do rádio
Em que um antigo
Compositor baiano
Me dizia
Tudo é divino
Tudo é maravilhoso
Tenho ouvido muitos discos
Conversado com pessoas
Caminhado meu caminho
Papo, som, dentro da noite
E não tenho um amigo sequer
Que ainda acredite nisso não
Tudo muda!
E com toda razão
Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê
Mas sei
Que tudo é proibido
Aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido
Até beijar você
No escuro do cinema
Quando ninguém nos vê
Não me peça que eu lhe faça
Uma canção como se deve
Correta, branca, suave
Muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém
Mas não se preocupe meu amigo
Com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção
A vida é diferente, eu sei, pode dizer...
A vida é muito pior!
E eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Por favor
Não saque a arma no "saloon"
Eu sou apenas o cantor
Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de você
Mas se depois de cantar
Você ainda quiser me atirar
Mate-me logo!
À tarde, às três
Que à noite
Tenho um compromisso
E não posso faltar
Por causa de você
Eu sou apenas um rapaz
Latino-Americano
Sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes
E vindo do interior
Mas sei que nada é divino
Nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é sagrado (secreto)
Nada, nada é misterioso, não.
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10. |
10 - Entropia
02:59
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E finalmente voltei a sonhar. Não foi, necessariamente, um sonho alegrador. Depende do grau de acidez do espírito que observa.
O universo foi dizimado. Um sopro, oriundo dos confins mais aleatórios do cosmos, simplesmente passou arruinando tudo. Tudo.
Aninha não conseguiu terminar seu TCC.
Sol, apelido acanhado da estrela que nos iluminava, foi empurrado como bolinha de gude em terreno baldio.
O dia significava o aniversário da filha do Marcelo. Que coincidência. Nem conseguiu comemorar. Desapareceu ainda no trampo.
Augusto, 17 anos, ficou no apartamento de manhã, faltou no colégio pra esperar o cara que vinha consertar o cavalete das cortinas que também foram pro saco; era uma terça-feira.
Uma turma de 7 amigos tirava selfie na praia de Santos. Sumiram junto do mar.
E toda a vida marinha também. A diversidade absurda de peixes, crustáceos e seres vivos mais que nunca foram nomeadas por humano algum. O conceito de vivo se foi, também.
Era o dia de pagamento de Wellington, morador periférico, ainda a caminho do suado emprego de ajudante de pedreiro na qual ainda tinha anos e anos a gastar.
Ele se foi junto com o conceito de dia. Junto das horas que preenchiam o dia. Junto da matiz lógica que o fazia atravessar meia cidade por menos de dois reais a hora extra.
Fabiana, desenvolvedora Web, só precisava de mais uns ajustes antes de mostrar o resultado ao cliente.
Tudo bem. O cliente também se foi. Tenho certeza de que teria gostado.
Mesmo que não tivesse, tanto faz. A opinião de ninguém importa mais.
Morreu a opinião, o gosto, o belo e a fadiga.
Não é legal que não exista mais fadiga?
Muita gente aplaudiria isso. Se ainda houvesse a expressão do aplauso.
O que significa o aplauso, afinal?
Depende. Alguns aplaudem fantasmas imaginários.
Outros, a mutação eterna que a natureza insistentemente formata frente aos olhos.
Eu, intimamente, gosto mais do segundo grupo.
Mas não importa. A natureza cansou de todos.
E ai de um condicionado como eu querer ter voz ativa nessa brincadeira!
Meu consolo é emular tudo isso de forma tão perfeita que me fizeste acordar alarmado.
Não de incrédulo, e sim de súbito, pelo alarme do celular, regulado pra me acordar mais um dia.
Quanto à existência do conceito de dia, permaneci calado.
Eu já entendi que ele não tem valor em si mesmo, de qualquer forma.
Virei e dormi mais 15 minutos, eu merecia; Até 7:45.
No sonho, não vi quem dizimou o universo.
Mas imagino que tivesse tudo isso em mente na hora de implantar a morte térmica do mesmo.
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