1. |
Óbvio e previsível
01:39
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Um som, do nada, surge de mim mesmo
Uma palavra resume um afeto
Mas que se admita que ela
Sempre nos limita e que
Hoje nós deixamos isso pra lá...
E como dizer não ao aleatório
E ao imprevisível?
E como aceitar o objetivo
Como subjetivo?
O objetivo pesa sendo o único bem
Pense o caminho, matá-lo é matar a si
Tento de todo modo me solidificar
Pra no momento certo saber me virar
Uma mestra dos improvisos sem saber improvisar
Um transeunte do acaso dos encontros
Uma pedra que não fura com a água
Um uma um uma um uma
Mas tem gente que acredita
Que uma criança nasce má ou erudita
Ou que o meio a determina
Sempre a guiar
Seria bom buscar ser mais claro
E mais compreensível
E deixar de pensar que tudo é óbvio
E previsível...
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2. |
Jovens que levam flores
01:21
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No horizonte de eventos
Destas vidas moribundas
Temos muitos/poucos ombros tolos
Dando esperança
Ela traz o medo em sua corcunda
E ele cresce com a importância
Que dedicamos a um possível
Mundo que anseia e esgana
"Já podemos ver que não
Teremos que sofrer
Nós não temos guerras
Nem empecilhos pra crescer"
Agencio sons, imagens, histórias
Pra esquecer um pouco
Desse fanatismo pelo imediato
Que enlouquece um pouco
Fumo todo dia ao sair do trampo
Não sou louco
Rumo todo dia ao sair do trampo
Para o pouco
Do que ainda dá para extrair de mim
Do que ainda posso doar ao infinito
Do meu mundo finito.
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3. |
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Vou mostrando como sou
E vou sendo como posso,
Jogando meu corpo no mundo,
Andando por todos os cantos
E, pela lei natural dos encontros,
Eu deixo e recebo um tanto
E passo aos olhos nus
Ou vestidos de lunetas,
Passado, presente,
Participo sendo o mistério do planeta
O tríplice mistério do "stop"
Que eu passo por e sendo ele
No que fica em cada um,
No que sigo o meu caminho
E no ar que fez e assistiu
Abra um parênteses, não esqueça
Que independente disso
Eu não passo de um malandro,
De um moleque do Brasil
Que peço e dou esmolas,
Mas ando e penso sempre com mais de um,
Por isso ninguém vê minha sacola.
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4. |
Minha geração I
01:29
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Oh geração que percebe aos poucos
Que sua superioridade evolutiva é especulativa
Com dois passos pra tecnologia reativa
E outros dois pra depressão e loucura de tantos roucos.
Roucos por dentro e por fora, sem saída;
Por dentro, no sufoco da falta de sentido da expressão
Por fora, na truculência não insólita da coerção
À reivindicação pelo sentido próprio da vida.
Geração que ainda procura na realidade
O sentido no todo do andar da carruagem
Daquele que se instalou uma tatuagem
E daquele que estancou-se da novidade.
Pronta para encurtar caminhos entre línguas, quer economia;
Delineando novas tendências de comodidade
E mais tempo pra pensar, mas apenas calamidade
Descompassado da experiência do clássico, quer na história soberania.
Estamos na esquina com o pão sem saber
O porquê do pão e o porquê da esquina
Fingindo ser bailarina da época da brilhantina
E entoando, de corpo, versos com poder.
O medo, né? De dar sentido sozinho, abocanha mentes
Que, ignorando a natureza, livres se consideram
E essa perigosa falácia proliferam
Junto do fantasma das superioridades inerentes.
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5. |
Filosofia primeira
01:22
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Nesses tempos de bagunça
É que a criança pode andar
Incentivo o equilíbrio
Do desequilibrar
A filosofia primeira
Sempre quis incomodar
Intuindo, com leveza
A incerteza do que há
Mas tem sempre alguém com medo
De perder estabilidade
Nessa nossa ordem social
Ter um dia como o outro
Um eterno retorno do mesmo
Sem velho, novo ou atual
É por isso que eu prefiro
Com a mudança me adequar
Ao invés de todo tempo
Em uma bolha me injetar
A filosofia primeira
Sempre quis incomodar
Intuindo, com leveza
A incerteza do que há
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6. |
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Trago na nesta sacola
O que me vieram a dar
Por sorte se expressaram
Para eu me inspirar
A história segue a passar
E os viventes a se afetar
A questão é como vai ficar
O meu uno e próprio "eu"?
É uma falência e tanto
Deixar de acreditar
Que qualquer um pode
Vir a se superar
Não é nem uma questão moral
É a vontade de alçar
Sobre o horizonte deste breu
Um outro modo de pensar
O que eu disser
Não é indiscutível;
Mas nada é e, no nosso caso,
Vence quem apela mais
Vai construindo sua fala
Buscando sempre o "melhor"
Sem saber que esse melhor
Depende de quem olhar
Se nessa valsa de espinhos
O sonho é um dia vencer
O mal venceu os mocinhos
Ou atrás tem algo mais
Não acha que tem algo mais?
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7. |
Carne burocrata
01:37
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E na hora de valorar
As possibilidades de busca
Na existência devemos priorizar
A verdade estável ou uma vida livre?
Incitar a paixão
De ir dormir e não dormir
De alegria que no outro dia
Poderei fazer mais!
E esse mais, bem me convence
Enquanto me entendo não consciente
Totalmente do que rola ao meu redor
Mas é diferente contentar-se;
Nem saber opinar entre a mudança
Ou a preservação
Sentir no caminho um desconforto
De ser sustentado por tantos órgãos
Miríades de moléculas, átomos
E no fim pouco com isso criar
Existem vidas mais "simples"
Como o vírus, que moveram mais gente
Isso não é uma birra decadente
Mas talvez pareça e, felizmente,
Tudo morre e dá seu lugar
E na hora de misturar
As possibilidades de formas
De viver e de criar
Que me dão a liberdade de ser só o que sou
Não se importe com o outro olhar
Formatado sem saber que opina com interesse
Interesse em mudar ou preservar
Escondido por discursos sob o flanco
Da carne burocrata.
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8. |
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Bom saber que os versos não se esqueceram de mim
Singela homenagem a um homem com medo de se distrair
Pois é, doutor... digo, o caso é complexo!
Eu peço e suplico: por favor, não o deixe morrer
Não pretendemos conhecer!
Tanto imbróglio oculto nesta nova aquisição
Livros e livros reunidos sem razão
Cada vez que espio o povo indicando com a mão
Parece fácil e claro, mas é ali que se esconde o tal
Mal sei o que é preciso pra fazer
Crescer o espírito de guerra das razões
A arte é o mastro das nações
Cadê o valor?
Pra descartar?
Enrugado cinza e frio
Conhecimento sem valor?
Cadê o valor?
Pra descartar?
Enrugado cinza e frio
Bom saber que os contos não se esqueceram de mim
Sigilo obtuso, apesar de sincero cheiro de alecrim
Pois é, doutor... digo, o caso é complexo
Eu peço e suplico: por favor, não o deixe morrer
Nós precisamos de você!
Ricas/vivas/limpas almas não sabem colher
As amargas/rasas/raras almas do saber
Cada vez que espio o povo indicando com a mão
Parece fácil e claro, mas é ali que se esconde o tal
Mal sei o que é preciso pra fazer
Crescer o espírito de guerra das razões
A arte é o mastro das nações
Cadê o valor?
Pra descartar?
Enrugado cinza e frio
Conhecimento sem valor?
Cadê o valor?
Pra descartar?
Enrugado cinza e frio.
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9. |
Estreita linha, estreita
01:00
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Cada vez mais se estreita a linha
Que separa o homem da natureza
E cria uma extrema dureza
No viver dessa vidinha.
Ditam ritmo as línguas naturais
E então a natureza se desvela
Para nós que enxergamos como uma vela
Em um quarto escuro e sem sinais.
Força de vontade para abrir caminhos
Nesses textos que não escrevo certinhos
Porque é palhaçada fingir ser "corretinho"
Pra talvez qualquer hora ganhar carinho.
Ou talvez a falta de ajuda de um vizinho.
Ou nada, e seguir a ainda nebulosa ideia de devir sozinho.
Existe, de fato, uma alegria!
Pelo abraço ao afeto que chegou cedo
Pelo embaço que me faz acordar cedo
Pelo medo que perdi de morrer cedo
Pelo complexo social humano que me fez querer morrer cedo
Pelo conjunto de regras específicas e limitadoras da vida que nos coroaram desde cedo
Pelo direito de tomar para si a posse de seu próprio conceito de cedo.
Estreita linha, estreita…
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10. |
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Não cante vitória muito cedo, não.
Nem leve flores para a cova do inimigo,
que as lágrimas do jovem
são fortes como um segredo:
podem fazer renascer um mal antigo.
Tudo poderia ter mudado, sim,
pelo trabalho que fizemos - tu e eu.
Mas o dinheiro é cruel e um vento forte levou os amigos
para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos,
e nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não.
Palavra e som são meus caminhos pra ser livre,
e eu sigo, sim.
Faço o destino com o suor de minha mão.
Bebi, conversei com os amigos ao redor de minha mesa
e não deixei meu cigarro se apagar pela tristeza.
- Sempre é dia de ironia no meu coração.
Tenho falado à minha garota:
- Meu bem, é difícil saber o que acontecerá.
Mas eu agradeço ao tempo.
o inimigo eu já conheço.
Sei seu nome, sei seu rosto, residência e endereço.
A voz resiste. A fala insiste: você me ouvirá.
A voz resiste. A fala insiste: quem viver verá.
Não cante vitória muito cedo, não.
Nem leve flores para a cova do inimigo,
que as lágrimas do jovem
são fortes como um segredo:
podem fazer renascer um mal antigo.
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